COLABORE

Manter viva a tradição, bordar a memória da comunidade

Áreas de Atuação

Bordado das Meninas de Córregos auxilia no fortalecimento da identidade e dos saberes das mulheres do distrito de Conceição do Mato Dentro

Publicação: 31/05/2023


De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o bordado é a atividade artesanal mais presente nos municípios brasileiros e pode ser encontrada em mais de 75% deles. Em Minas Gerais é uma atividade econômica desenvolvida tradicionalmente em mais de 700 municípios. Além de ser uma importante fonte de renda para diversas famílias, o bordado é um ofício de tradição, passado de geração a geração, e faz parte das práticas culturais das comunidades.

Formado atualmente por 8 mulheres, o grupo Meninas de Córregos se reúne semanal ou quinzenalmente para desenvolver moldes, recortar peças e trocar saberes sobre a costura. Elas iniciaram as atividades no ano de 2019, com o auxílio da Prefeitura de Conceição do Mato Dentro, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater) e da Anglo American, que promoveram oficinas de produção de bolsas e de bordado na comunidade de Córregos.

De acordo com Marli de Sousa Reis, moradora de Córregos e uma das idealizadoras do grupo, esse investimento foi pensado para que as jovens aprendessem o ofício e garantissem uma fonte de renda, além de tentar manter viva uma tradição que já existe há anos entre as mulheres da comunidade.


Marli de Sousa Reis, moradora de Córregos e idealizadora do projeto | Foto: Júlia Militão (Cáritas|ATI 39)


“Esse grupo, na verdade, a gente queria ver se conseguia trazer mais os jovens pra pegar, sabe? Principalmente os jovens, em vez de ficar aprendendo coisa que não precisa. [...] Só que eu era muito interessada em fazer isso, porque eu mexia muito com ponto de cruz, tecido, fazia crochê, aí eu queria ajudar o pessoal, porque tinha muita juventude. [...] Aí eu perguntei se podia fazer esse negócio de artesanato, veio esse grupo de artesanato, falaram que as artesãs iam ensinar pra gente, aí a gente fez uma reunião e ficaram várias pessoas para bordar. [...] Tinha uma turminha boa de jovens”.


Fazer do ofício arte e terapia

Desde cedo, Marli já exercitava seu dom artístico. Ela aprendeu a costurar lendo revistas e observando outras mulheres da comunidade. “Toda vida eu gostei de artesanato, desde criança eu aprendi a fazer tudo sozinha, ninguém me ensinou. Ponto de cruz, tecer, pintura, tudo sozinha. Por exemplo, eu ia em Conceição, via fazendo aquele tapete, aí eu comprava a tela, o saco, as manhas, chegava em casa, pegava revista de ponto de cruz e ia fazendo”.


Bolsa com bordado "Meninas de Córregos". | Foto: Júlia Militão (Cáritas|ATI 39)


A comunidade de Córregos sempre teve bordadeiras e costureiras importantes, que repassaram o gosto pelos diferentes tipos de pontos, pelas máquinas de costura e pela prática que é considerada, também, a terapia de muitas mulheres. “Aqui já teve bordadeira muitos anos, fazia aqueles pontos que falavam que era ponto paris, ponto cheio, ponto de bainha, aquela tal de renda turca. Lembro que a vizinha ali, que morreu tem muitos anos, fazia o tal de marabá. Tudo eu tentei aprender com ela. Eu era pequena, tinha uns 5 ou 6 anos e tava lá, eu ia buscar água na cabeça, aí chegava lá e ela tava tecendo o tal de marabá. Eu ficava olhando doida pra aprender... Aqui toda vida teve costureira. Ela também [dona Maria da Conceição, Mariinha] costurava demais, às vezes eu ia pra lá e ficava costurando com ela, costura de mão”.

   

Os bordados carregam a identidade da comunidade e das mulheres artesãs. | Fotos: Júlia Militão (Cáritas|ATI 39)


O nosso patrimônio vem da linha e da agulha

A prática do bordado é considerada também parte do patrimônio cultural de Córregos. O grupo Meninas de Córregos é conhecido em toda a região e é um importante retrato da identidade, da cultura, do ambiente e dos saberes das mulheres artesãs do distrito de Córregos. “Esse material nosso corre em vários lugares, muita gente já comprou, lá fora ficam interessados em nosso trabalho”, reforçou Marli.

Valorizar e resgatar o artesanato e as práticas culturais das comunidades rurais, especialmente as comunidades atingidas pelo Projeto Minas-Rio da Anglo American, é de extrema importância. Isso porque a atividade da mineradora altera os modos de vida dessas famílias e pode, também, causar impactos nas atividades locais, como é o caso do bordado. É possível perceber que gerações anteriores de mulheres trabalhavam com atividades tradicionais, enquanto as gerações atuais vêm trabalhando cada vez mais nas organizações ligadas à mineradora. Por isso, fortalecer o trabalho de artesãs e profissionais como as Meninas de Córregos é valorizar, também, a cultura da comunidade, e possibilitar a circulação de renda e a qualidade de vida de diversas moradoras.


Foto: Júlia Militão (Cáritas|ATI 39)


Texto: equipe de comunicação Cáritas|ATI 39

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