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RAÍZES EM ARTE: o olhar das juventudes para o Quilombo Buriti do Meio

Áreas de Atuação

Cáritas Diocesana de Januária realiza exposição fotográfica com imagens produzidas por jovens e adolescentes da comunidade, em São Francisco

Publicação: 30/11/2022


A Cáritas Diocesana de Januária realizou, na tarde dessa terça-feira, 29, na cidade de São Francisco, o lançamento da exposição fotográfica “RAÍZES EM ARTE: o olhar das juventudes para o Quilombo Buriti do Meio”. A exposição busca revelar os encantos e as belezas das expressões culturais e dos modos de vida da comunidade, pela perspectiva dos jovens e dos adolescentes quilombolas. O lançamento contou com a presença da comunidade escolar; do superintendente regional de ensino de Januária, Antônio Francisco de Sousa; do presidente da Cáritas diocesana de Januária, Francisco Tupiná; e do grupo Cravos e Rosas que cantam e dançam, da comunidade de Buriti do Meio, que fez uma apresentação para os convidados.


Grupo Cravos e Rosas que cantam e dançam se apresentam durante a abertura da exposição, em São Francisco.

Maria Mendes Ramos, moradora de São Francisco, acompanhou atentamente a exposição.Ela, que conhece o quilombo, falou da alegria em ver as fotos dos jovens e adolescentes: “A exposição retrata realmente a história do quilombo, é possível ver através das fotos o que eles vivem e o que são realmente. É uma parte da história aqui de São Francisco que está bem representada para todo mundo ver e curtir. É uma exposição belíssima, eu gostei imensamente”.

A exposição fotográfica está sendo realizada na Escola Estadual Raul Reginaldo, que no turno da noite funciona como campus da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. A pedagoga especializada em educação especial, Maria Consolação Almeida Nere, conhecida como Consola, levou com entusiasmo os alunos do 3º ano fundamental para visitar a exposição: “Está sendo muito gratificante, porque eu já trabalhei em várias escolas e eu nunca tive a oportunidade de presenciar um evento tão magnífico, vocês trouxeram pra gente um outro tipo de cultura que nossos alunos não conheciam, eu vi a participação deles, eles ficaram caladinhos, prestando atenção. É bom ver como que tem uma entidade como a Cáritas que acompanha o processo junto com a comunidade. Eu nunca vi uma coisa tão linda, uma novidade para as crianças, eu fiquei apaixonada”.


Professora Consola visita a exposição com seus alunos da Escola Estadual Raul Reginaldo.

As fotos da exposição foram produzidas durante a Oficina de Comunicação Popular, atividade realizada na comunidade, nos dias 28 e 29 de outubro de 2021, com aproximadamente 30 adolescentes e jovens. Durante a oficina, os participantes aprenderam as principais técnicas de fotografia e definiram locais, atividades e pessoas expressivas da comunidade para um momento de prática fotográfica. A iniciativa foi promovida pela Cáritas Diocesana de Januária, através do projeto Quilombo dos Direitos, que desde de 2015 desenvolve atividades de fortalecimento do protagonismo de crianças, adolescentes e jovens e de organização das famílias e lideranças comunitárias.

A jovem Geisse Moreira, moradora da comunidade quilombola, participou da oficina de fotografia e teve suas fotos expostas: “A oficina de fotografia foi muito importante pra mim, pois com ela eu pude aprender técnicas que deixam uma foto com melhor qualidade. Essas técnicas eu vou levar para o resto da minha vida. Sou muito grata de ter participado da oficina e poder ver as fotos que nós tiramos através dessa exposição. É uma alegria muito grande saber que a nossa comunidade está sendo reconhecida cada dia mais”.


Moradora da comunidade quilombola, Geisse Moreira, participou da oficina de fotografia e teve suas fotos expostas.

O quilombo 

Buriti do Meio é uma das 8 comunidades quilombolas auto intituladas em São Francisco, no Norte de Minas Gerais. Localizada a 43 quilômetros da sede do município, segundo relatos, a comunidade teve origem com a chegada de Eusébio Gonçalves Gramacho, vindo da Bahia para a região. Ele se casou com Manuela Francisca de Barros, com quem teve 7 filhos, formando a primeira família da comunidade. Hoje em dia, cerca de 250 famílias vivem em Buriti.

Em 2004, Buriti do Meio foi certificada pela Fundação Palmares como comunidade quilombola. Atualmente, é vinculada à Federação Quilombola de Minas Gerais, representada legalmente pela Associação Comunitária de Buriti do Meio. A comunidade mantém viva suas tradições alimentares, das danças, dos cantos, das festas, dos artesanatos e de organização social. 

O artesanato em argila ou artesanato de barro é uma importante expressão da cultura da comunidade. Parte da tradição e da história de Buriti do Meio, atualmente, o artesanato é fonte de renda e de movimentação da economia local. Algumas famílias se organizam em núcleos de produção para comercializar os produtos para pessoas da região e de todo o Brasil.

As danças, as músicas e as festas populares também são manifestações culturais tradicionais em Buriti do Meio. A capoeira, o maculelê, a folia de Reis e de Bom Jesus, o lundu ou sussa, as cantigas de roda, entre outras estão presentes nos dias de hoje e ao longo da história da comunidade. No calendário de celebrações populares estão a festa de São Sebastião, da Abolição da Escravatura, as festas juninas, de São Geraldo e de Nossa Senhora Aparecida, da Consciência Negra e outras. 

O direito à terra é uma luta primordial para as famílias de Buriti do Meio. Por terra, a comunidade entende não apenas o espaço físico e geográfico onde está localizada, mas o território constituído pelos seus saberes locais, sua história e seus modos de vida. Desde 2005, Buriti do Meio aguarda um processo de titulação das terras aberto no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).


Dona Maria das Neves, liderança comunitária, fala sobre a comunidade na abertura da exposição. 

Quilombo dos Direitos

Desde 2015, a Cáritas Diocesana de Januária atua na comunidade com o projeto Quilombo dos Direitos, promovendo ações de fortalecimento do protagonismo de crianças, adolescentes e jovens, de fomento à organização comunitária, de formação de lideranças, de geração de renda e de incidência no acesso às políticas públicas. 

O projeto é realizado por meio de parceria com a Kindernothilfe (KNH), agência de cooperação para o desenvolvimento com enfoque na área de direitos humanos de crianças e adolescentes. Diretamente, o Quilombo dos Direitos atende 250 crianças e adolescentes e, pelo menos, 40 jovens, sendo ao todo 150 famílias atendidas pelas atividades. No diálogo com a escola, indiretamente, o projeto atinge aproximadamente 300 crianças, adolescentes e jovens.

Meire Reis, coordenadora do projeto, avalia a importância de aprimorar as técnicas de fotografia dos jovens da comunidade: “O quilombo Buriti do Meio tem um potencial cultural muito grande e a Cáritas Diocesana de Januária, através do projeto, tem buscado levar o quilombo para além do seu território, para que outras pessoas conheçam suas belezas e riquezas”. Ela acredita que a fotografia ajuda a fortalecer o projeto Quilombo dos Direitos na medida em que as crianças e os adolescentes passam a produzir conteúdos para falar da comunidade, do projeto, de seu povo e de sua cultura. “Não apenas falar, mas apresentar o quilombo ao mundo através do olhar da juventude”, afirma.

A exposição fotográfica fica disponível para visitação até o dia 01º de dezembro. No dia 10, as fotos serão expostas de forma permanente no centro comunitário do quilombo Buriti do Meio.


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