Como ação prevista nos planos de trabalho das Assessorias Técnicas Independentes (ATI's) da Cáritas e do Nacab, as equipes organizaram um Grupo de Trabalho (GT) com a temática da “Água”, tendo em vista as pautas recorrentes em reuniões sobre o acesso e a qualidade da água nos territórios das famílias que integram as comunidades atingidas de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim. 

A partir disso, e no decorrer deste ano, as ATI’s realizaram estudos aprofundados com o objetivo de conhecer e levantar dados sobre a realidade hídrica da região,  para identificar os possíveis impactos sofridos desde a chegada da mineração. As análises demonstraram que as mudanças climáticas por si só não são fatores determinantes para a diminuição drástica, para falta de água e/ou de abastecimento. Por sua vez, foram observadas mudanças não esperadas no comportamento climatológico com o passar dos anos. Já em relação à vazão, foi detectada certa diminuição do volume, o que pode influenciar na alteração da disponibilidade hídrica na região. 

Embora as características físicas e naturais não sejam tidas como os grandes fatores que atingem negativamente as comunidades, é notório observar que a dinâmica do uso e ocupação do solo na região foi profundamente alterada e que tal característica tem impactado a paisagem local, sobretudo pela atividade minerária da Anglo American e as relações das atividades que vêm da empresa, que se estabelecem ao longo das regiões onde ela ocupa.

Vertente oeste da serra minerada pela Anglo American, próximo a comunidade de Gondó.

Os estudos mostram, também, que há um aumento significativo na tensão hídrica, relacionado às características que compreendem o período do surgimento do empreendimento e da continuidade do processo minerário na região, levando em conta o aumento da população, o processo de ocupação e a supressão vegetal - seja pela área da cava, ou pelo empreendimento no entorno. Todo esse quadro citado demanda a utilização de grandes volumes de água, ocasionando, assim, o que chamamos de aumento da insegurança hídrica na região. Outro fator a ser apontado é a possível perda da qualidade hídrica nos cursos d’água, que podem ser potencializados pelas dinâmicas ligadas ao processo de carreamento do minério, demonstrando que esses impactos na região podem ser ampliados e, com isso, aumentam também a vulnerabilidade hídrica da população. Tal fato reforça a necessidade de maior gestão e planejamento relacionado aos recursos hídricos da região minerada.

Seminário das Águas O Seminário das Águas foi um momento de devolutiva para as comunidades de parte desses estudos citados anteriormente, a partir das ações que já foram realizadas e que ainda estão sendo feitas pelas Assessorias Técnicas, com o objetivo de, junto aos atingidos e atingidas, avaliarmos os próximos passos na luta pela garantia do direito ao acesso à água de qualidade e em quantidade para os moradores e moradoras das 13 comunidades atingidas pela Anglo American. A partir disso e dos “Encontros das Águas” - reuniões que antecederam o seminário - realizados nas comunidades, os atingidos e atingidas construíram um mapa mental da água, ou seja, indicaram quais eram as cachoeiras, os rios, os poços artesianos, as caixas d'água, as lagoas e outros recursos que estavam disponíveis e inativos em cada um de seus territórios. Posterior a isso, o Grupo de Trabalho da Água está construindo um mapa unificado, que abrange cerca de 236 pontos de água identificados nas 13 comunidades assessoradas Além do mapa que compreende os recursos hídricos das 13 comunidades assessoradas, a equipe também produziu uma Linha do Tempo com o histórico da percepção dos impactos apontados pelos atingidos nos mapas, que vai desde do período de acordos entre município, Estado e mineradora, até a instalação e o início da atividade minerária na região. Todos esses materiais também foram apresentados no Seminário e em breve serão divulgados para toda comunidade e órgãos públicos.