Comunidades de Porteirinha e Jampruca realizaram planejamentos de gestão de riscos e emergências, nos dias 10 e 12 de agosto, respectivamente. As oficinas Trilhas para comunidades mais seguras: Construindo Planos Comunitários de Gestão de Riscos e Emergências foram realizadas pela Cáritas Brasileira e Cáritas Regional Minas Gerais, com o apoio da Adveniat, Cáritas Alemanha e CAFOD. O intuito das oficinas é tornar esses locais mais seguros frente às mudanças climáticas. Considerando os dois encontros, 58 pessoas participaram das construções dos planos comunitários.
Porteirinha e Jampruca são dois municípios mineiros dos 450 atingidos pelas fortes chuvas vivenciadas entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022. O período foi marcado por inundações, enchentes e deslizamentos que deixaram mais de 9.500 pessoas desabrigadas e 60.608 pessoas desalojadas em todo o estado.
Na época, a rede Cáritas Brasileira e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se mobilizam frente a esse cenário por meio da campanha #SOS Bahia e Minas Gerais: Solidariedade que Transborda. A iniciativa atuou na ajuda emergencial, bem como na etapa de reconstrução, destinando itens para reparos das casas, eletrodomésticos básicos e outros itens essenciais para retorno seguro para suas residências.
A comunidade de Jampruca realizou visita técnica para reconhecer os riscos do território.
Rodrigo Pires Vieira, assessor da Cáritas Regional Minas Gerais, destaca, porém, que para além das ações emergenciais e de reconstrução é necessário construir caminhos comunitários para diminuir os riscos de perdas humanas e materiais. Os desastres socioambientais possuem uma predisposição de serem ainda mais frequentes diante da crise climática e ambiental que vivenciamos.
“Porteirinha e Jampruca tiveram comunidades atendidas pela campanha #SOS Bahia e Minas Gerais: Solidariedade que Transborda. No primeiro momento, prestamos a ajuda emergencial. Em seguida, auxiliamos na reconstrução das casas afetadas. Mas a Cáritas entende que também é necessário prepararmos as comunidades para serem mais resilientes a possíveis novas emergências”, diz Rodrigo.
Construção coletiva
Os planos comunitários de gestão de riscos e emergências são conjuntos de ações que buscam promover reflexões coletivas para atribuição de responsabilidades quanto à origem dos problemas que cada comunidade enfrenta. A Cáritas Brasileira utiliza a metodologia gestão integral de riscos liderada pela comunidade. De forma lúdica e participativa, as comunidades são incentivadas a pensarem soluções para os problemas socioambientais dos territórios e, assim, constroem coletivamente os planos de gestão de riscos e emergências.
Em Porteirinha, a oficina foi realizada no Curral de Varas. A agricultora Maria da Glória é dona da propriedade, ela perdeu sua casa com as chuvas e foi atendida pela campanha. Para ela, a oficina ajudou os participantes a conseguirem mensurar os impactos que podem ocorrer em diversos aspectos. “Foi muito importante o que a gente ouviu e viveu nesse encontro. Às vezes a gente acha que é difícil prevenir porque não sabemos o que vai acontecer, mas a oficina mostrou que há caminhos”, relata Maria.
Enquanto em Porteirinha as enchentes não acontecem com frequência, em Jampruca esse é um fato corriqueiro. Ana Rodrigues da Silva mora em uma rua com uma população majoritariamente idosa e de pessoas com deficiência. Sua casa é o ponto de referência em que é possível identificar o aumento do nível da água da rua. “Toda essa situação da rua nos deixa preocupada, principalmente quando chega essa época do ano. Não temos o apoio e segurança adequados. Mas aprendemos muito nesse encontro e temos fé que vamos conseguir colocar as coisas vistas aqui em prática”.
Comunidade de Porteirinha mapeia riscos e potencialidades da região.
Lucas D’Avila, assessor da área de Meio Ambiente, Gestão de Riscos e Emergências (MAGRE) da Cáritas Brasileira, pontua que a organização comunitária é um fator imprescindível para o enfrentamento e respostas às emergências socioambientais.
“É sabido que em qualquer país do mundo, não apenas no Brasil, que as instituições sempre vão tardar a chegar na base quando acontece um desastre socioambiental. Então, a primeira resposta sempre vai ser da comunidade, não importa se na localidade a Defesa Civil é atuante ou se tem uma Prefeitura que funciona… O primeiro enfrentamento é da comunidade. Por isso que a comunidade precisa estar organizada para enfrentar os seus desafios, ainda mais quando a gente fala de contextos em que há descaso do poder público”, destaca Lucas.
Criação do comitê comunitário
Como resultado das oficinas Trilhas para comunidades mais seguras: Construindo Planos Comunitários de Gestão de Riscos e Emergências, moradores da comunidade do município Jampruca que participaram das oficinas se reuniram para a criação de um comitê comunitário de gestão de risco. Tendo como público alvo os moradores de área de risco, a reunião aconteceu no dia 30 de setembro, no salão paroquial do município, e contou com a presença de 25 pessoas. No encontro, as comunidades retomaram as discussões das oficinas e foram apresentados os desafios e as propostas para a implantação do comitê.
Por Wigde Arcangelo e Joice Valverde, da Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais