Córregos e Gondó estão em uma região conhecida por serras que compõem a Cordilheira do Espinhaço. A região é também cercada por uma grande quantidade de água: “o distrito chama Córregos não é à toa, né?”, lembra Carlos Mortraud, morador da comunidade. Essas riquezas naturais fazem parte dos modos de vida e das tradicionalidades daqueles que vivem na região. Mas, são modos de viver que, devido aos impactos causados pelas atividades minerárias, estão cada dia mais próximos do desaparecimento
Diferente das pessoas que vivem em grandes cidades, as comunidades mantêm um contato muito próximo com as águas do lugar onde moram: os córregos cortam os terrenos dos moradores; as nascentes ainda brotam no quintal e as pessoas costumam tomar banho de cachoeira nos finais de semana. “A região é de muita água, sempre foi, né? Ultimamente tem diminuído. A gente tinha muito mais nascentes, mas sempre foi importante. (...) no fundo dos quintais tinha algumas nascentes que já secaram, mas a água sempre foi importante, a natureza, a paisagem; a gente tem muitas cachoeiras, tem cavernas, tem lugares muito bonitos que a gente pode visitar aqui na região.” Luiz de Sousa;
Por conta dessa abundância e da possibilidade de ter uma relação próxima com as águas e a natureza ao redor, as comunidades desenvolveram maneiras de viver e de produzir relacionadas a esses recursos. Em Gondó, por exemplo, a pesca era uma atividade bastante comum e o fubá era produzido em moinhos de água, movidos pela correnteza da água dos pequenos rios que passavam pela comunidade.
Em Gondó, moinho de água era utilizado para fazer fubá.| Foto: Silmara Filgueiras (Cáritas|ATI 39)
Apesar disso, como comenta Luiz, as águas estão diminuindo e as comunidades também estão deixando de viver como viviam antes porque elas não têm incentivo para preservar suas tradicionalidades. E tudo isso é potencializado pela atividade minerária: “o que ela faz é acelerar esse processo de desinteresse pela tradição. Porque é uma outra chance de emprego, outro tipo de emprego, as pessoas acham mais atrativo ser empregado. (...) As pessoas que podiam estar na roça trabalhando e produzindo alguma coisa, estão trabalhando com mineração.”
Da beleza às paisagens devastadas
A natureza e a paisagem características da Cordilheira do Espinhaço, e que formam a identidade das duas comunidades, estão também sendo modificadas pela atividade minerária. Da antiga Estrada Real, que passa por Gondó e Córregos, é possível ver o desmonte de rocha na serra onde está instalada a Mina do Sapo da Anglo American. Ali, a serra perdeu seu encanto e se tornou uma cena de devastação e ruína que hoje forma Gondó.
Desmonte de rocha na serra onde está instalada a Mina do Sapo, vista de Gondó.| Foto: Cecília Santos (Cáritas|ATI 39)
Da comunidade de Córregos, é também possível ver essa cena. “Dependendo da região de Córregos de onde você está, se cê tá ali em cima, na região do Cruzeiro, você tem a vista da serra. E ela foi bastante alterada. porque ela faz parte da paisagem, né? Não tá tão colado igual em Gondó, mas faz parte.”; comenta Carlos.
A região de Conceição de Mato Dentro se localiza entre diversas serras, que fazem parte do Espinhaço: Serra de São José; Serra da Ferrugem; Serra do Tapera. São nessas serras que nascem tantas águas; vidas e maneiras de viver “é um conjunto de serra e elas fazem parte do espinhaço, que é a grande cadeia de Serras que vem desde o sul de Belo Horizonte e vai até a Chapada Diamantina na Bahia. (A Serra) é até tombada pelo Unesco como patrimônio da biodiversidade mundial, né? Então, é absurdo, assim, uma serra que é tombada como patrimônio, com esse monte de projetos mineração avançando em cima”, alerta Carlos.
A Serra do Espinhaço foi reconhecida pela UNESCO em 2005 como “área prioritária para conservação das riquezas naturais e culturais existentes no planeta” Ela abriga três biomas brasileiros de grande importância: a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica. Isso significa que nesta Serra há centenas de espécies de vegetação e animais; alguns deles só podem ser encontrados ali. Para além disso, é no Espinhaço que se encontra uma das bacias hidrográficas mais importantes do país, a do Rio São Francisco.