COLABORE

Guardiãs e guardiões das sementes crioulas na garantia da agrobiodiversidade

Áreas de Atuação

Ciclo de encontros busca promover o fortalecimento da rede de trocas de Sementes da Gente no semiárido mineiro.

Publicação: 03/10/2022


As guardiãs e os guardiões das sementes crioulas do semiárido de Minas Gerais participaram de encontros de fortalecimento da Rede de Trocas de Sementes, nos meses de agosto e setembro. Os Encontros Semeando a Rede de Guardiãs e Guardiões das Sementes da Gente integram um ciclo de atividades que busca consolidar a articulação entre as guardiãs e os guardiões, valorizando sua centralidade na garantia da agrobiodiversidade.

No Vale do Jequitinhonha, o encontro foi realizado na comunidade quilombola Paraguai, município de Felisburgo, nos dias 25 e 26 de agosto, com cerca de 30 participantes. E nos dias 15 e 16 de setembro, foi a vez do Norte de Minas receber aproximadamente 40 pessoas para a atividade no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em Varzelândia.

Segundo Anna Crystina Alvarenga, assessora e membro da coordenação colegiada da Cáritas Regional Minas Gerais, esse tipo de atividade é uma das estratégias de conservação das sementes crioulas, da agrobiodiversidade e do fomento à agroecologia. “Nesses espaços que se mantém vivo o que é essencial no campo da conservação das sementes, que é a garantia da troca genética e da troca de conhecimentos”, explica.

Por meio de metodologias populares e participativas, os encontros promoveram reflexões sobre o papel central das guardiãs e dos guardiões na conservação da agrobiodiversidade, na garantia das políticas públicas que favorecem a manutenção das sementes e os direitos da agricultura familiar. Durante a programação, os participantes realizaram feira de troca de sementes, visitas aos sistemas produtivos agroecológicos e às casas de sementes.


Encontro reúne guardiãs e guardiões das sementes crioulas do Vale do Jequitinhonha na comunidade quilombola Paraguai, em Felisburgo.

É a semente que dá vida à guardiã e ao guardião

A guardiã das sementes crioulas, Denise Cardoso, da comunidade Brejão, em Jequitinhonha, conta que a cada encontro que participa ganha um novo aprendizado. “Cada vez que a gente vem, trazemos um aprendizado para a vida, para a família, para a comunidade”, afirma. Denise participou da atividade no Vale do Jequitinhonha levando para sua comunidade a mandioca da massa amarela, também conhecida como mandioca abóbora. 

Denise destaca que os encontros são momentos para conhecer novas variedades de sementes presentes em outros biomas e regiões: “estamos no meio de Mata Atlântica, aí a gente pega semente do Norte [de Minas] para fazer teste e isso faz uma grande diferença para nós”. A guardiã das sementes crioulas Dulce Borges Pereira, da comunidade Caatinga, em Varzelândia, faz um relato parecido após participar do encontro no Norte de Minas: “teve uma semente que eu não conhecia, que é uma semente mais do cerrado, de onde tem água, pois a gente mora no semiárido”.

Após participar da atividade em Varzelândia, Dona Dulce voltou para casa levando sementes de sorgo, de gergelim, de milho e de abóbora. Para ela, o encontro presencial foi importante, pois há muito tempo não se reunia com seus companheiros dos movimentos agroecológico e das sementes crioulas devido à pandemia.

Durante o período de isolamento social, a maioria das atividades presenciais com os guardiões de sementes crioulas foram adiadas e a capacidade de articulação desses coletivos ficou fragilizada. “Apesar dos guardiões e das guardiãs terem buscado outras formas de manter a proximidade e as trocas, como grupos de Whatsapp de trocas de sementes, a presença, a troca em si, a proximidade, os vínculos, a afetividade e a mística, são muito importantes”, afirma Anna Crystina.


Visita ao sistema produtivo da comunidade João Congo, em Varzelândia, durante o encontro das guardiãs e dos guardiões das sementes crioulas no Norte de Minas.

É a guardiã e o guardião que dão vida à semente

Segundo Alvarenga, o foco para acessar a semente crioula é a valorização, o fortalecimento e a centralidade da ação do guardião e da guardiã. “Se nosso foco é a garantia da conservação das sementes, que é componente essencial para a vida, não adianta nada só valorizarmos e centralizarmos na multiplicação e na conservação, mas sim naqueles que garantem que essas sementes existam, que são os guardiões e as guardiãs". 

O tesoureiro da Cáritas Diocesana de Almenara e guardião das sementes, Reginaldo Antônio de Matos, da comunidade quilombola Paraguai, conta que para onde vai sempre leva sementes para trocar. “Quando vou para outras comunidades visitar já levo as sementes junto comigo. Na minha bolsa já tem 3, 4 variedades de sementes”, diz. Reginaldo explica que a cada troca pensa nas guardiãs e nos guardiões da sua comunidade: “eu faço a troca de sementes não só para me interessar, eu faço a troca para interessar todos os guardiões aqui da comunidade”.

O Encontro Semeando a Rede de Guardiãs e Guardiões das Sementes da Gente é organizado pela Cáritas Regional Minas Gerais com apoio da Misereor e integra um ciclo de atividades de articulação das redes de guardiãs e guardiões das sementes crioulas. A atividade contou com a parceria da Cáritas Diocesana de Almenara e de Januária, da Articulação Mineira e Nacional de Agroecologia (AMA e ANA, respectivamente). Após os encontros no Vale do Jequitinhonha e no Norte de Minas, em outubro será realizado um encontro reunindo guardiãs e guardiões do semiárido mineiro, no município de Rio Pardo de Minas.


Por meio de metodologias populares e participativas, encontro reúne guardiãs e guardiões das sementes crioulas do Norte de Minas, em Varzelândia.

Fotos destaque e 1: Lívia Bacelete, da Cáritas Regional Minas Gerais
Fotos 2 e 3: Wanessa Marinho, da Articulação Mineira de Agroecologia (AMA)

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