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Mariana 8 anos: A reparação na balança das Geraes

Áreas de Atuação

Nesse marco temporal, comunidades atingidas pelo rompimento da barragem reivindicam mais uma vez pela justiça

Publicação: 30/10/2023


Desde 2015, as pessoas atingidas de Mariana lutam para a reparação integral dos danos sofridos e o restabelecimento de suas condições de vida. São profundas as alterações provocadas pelo contexto de um desastre-crime dessa magnitude, que obrigou pessoas de comunidades rurais a se mudarem para a vida urbana, que as inundam de tarefas indispensáveis para a reorganização dessas vidas já atravessadas por tamanha violência.

O reassentamento das comunidades arrasadas pela lama foi uma conquista dos atingidos e atingidas, mas a morosidade como ainda é conduzido o processo provoca frustração e incerteza duradoura quanto ao futuro. Foram recorrentes as alterações dos prazos para a conclusão dos reassentamentos e tais descumprimentos jamais foram judicialmente penalizados. Nesse sentido, muitas pessoas morrem sem vivenciar a reparação integral e ter de volta suas casas. Muitas das entregas de chaves realizadas neste ano, são de casas com avarias. Ainda é preciso destacar que os reassentamentos não respeitam integralmente o modo de vida das comunidades assoladas pela lama. As pessoas atingidas, em sua maioria, plantavam e colhiam seus próprios alimentos, sem a utilização de agrotóxicos, criavam animais para consumo, pescavam nos rios, coletavam lenha, plantas medicinais e madeira nas matas e frequentemente trocavam alimentos entre a vizinhança, familiares e amigos. O modo de vida rural mantido por essas comunidades garantia diversidade e acesso a alimentos saudáveis de qualidade conhecida e também a autonomia das famílias. Tudo isso foi soterrado por uma onda de rejeitos que se arrasta pelo tempo.

Atualmente, além do alto custo dos alimentos nos centros urbanos, a procedência e qualidade são duvidosas e desconhecidas. E, mesmo nos reassentamentos, onde as primeiras casas estão sendo entregues, não é possível prever o retorno dos modos de vida, tendo em vista a declividade dos terrenos e a falta de acesso à água bruta. Ou seja, os impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão implicam também em uma perda da soberania e segurança hídrica, e também alimentar, que antes existia nas comunidades atingidas. As famílias utilizavam água bruta de córregos, lagos e nascentes, agora, sem o manejo correto e completo dos rejeitos, é inviabilizado o uso do recurso hídrico, essencial para a retomada econômico-produtiva e garantia do direito à moradia.

Oito anos depois do desastre-crime é evidente que a justiça pelas pessoas atingidas não foi alcançada. O poder econômico das mineradoras se sobressai, assim como a lama que ainda é uma mancha em toda a Bacia do Rio Doce e no Espírito Santo. É urgente falar sobre a (in)justiça em Mariana e, de forma ampla, em outros territórios minerários de Minas Gerais. Os territórios atingidos pela exploração predatória sofrem com a injustiça e violência desde a “corrida do ouro” colonial e, ainda hoje, a história continua rebuscada pela maquinação minerária.

Para além de comunidades dilaceradas, das histórias e relações interrompidas, da imposição de uma nova rotina e da experiência de uma vida deslocada e suspensa, os atingidos e atingidas pelo desastre–crime de Fundão enfrentam um contexto hostil ao acolhimento da sua presença e de seus esforços de reivindicação de direitos. São pessoas que estão há oito anos submetidas a graves violações de direitos humanos, mas que não fogem da luta pela reparação integral. Diante disso, a Cáritas MG|ATI Mariana reivindica, em consonância com as pessoas atingidas, que a justiça seja alcançada no território das Geraes.





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