Em Conceição do Mato Dentro, a Assessoria Técnica Independente da Cáritas acompanhou uma reunião entre o Promotor de Justiça da Comarca de Conceição do Mato Dentro, Dr. Caio Dezontini Bernardes, o membro da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos), Luiz Tarcísio Gonzaga de Oliveira e as famílias atingidas que foram reassentadas na comunidade de Gondó. O encontro aconteceu devido à morosidade na resolução de algumas pendências advindas do processo de reassentamento que, segundo relato das famílias, já se arrasta há mais de 10 anos.
Famílias e/ou pessoas reassentadas são aquelas que sofreram deslocamento físico de suas casas e propriedades de origem para serem assentadas em outros lugares, geralmente por pela implantação de grandes empreendimentos, como foi o caso de algumas famílias que residem hoje em Gondó, após a chegada e instalação do Projeto Minas-Rio da Anglo American.
Desde a chegada da Assessoria Técnica da Cáritas no território foram realizadas escutas e reuniões com essas famílias, com o intuito de mapear e identificar as pendências e questões em relação ao processo de reassentamento, bem como construir junto delas propostas de encaminhamentos para resolução desses problemas. A partir desse mapeamento, está sendo elaborado um parecer sobre as famílias reassentadas das comunidades de Córregos e Gondó que será encaminhado ao MPMG e aos demais órgãos competentes. Paralelamente, ,
No encontro foram discutidos os principais pontos relatados pelos atingidos (as), como a ausência de escritura pública das propriedades de destino que foram realocadas em Gondó; a não inclusão da comunidade no Programa de Negociação Opcional (PNO) da Anglo American; o problema com abastecimento de água potável e a dependência das famílias por caminhão pipa e a escassez da mesma. Para todos esses temas os representantes do Ministério Público e da Cimos fizeram considerações e apresentaram possibilidades para possíveis encaminhamentos.
Assim como outros moradores, Elaine Simões Peixoto, relatou que “até hoje, a Anglo não repassou a escritura da sua casa” e quando foi questionada pelo Promotor Dr. Caio se a mineradora já deu a previsão de alguma data, a moradora afirmou que “não. Caso eu queira vender para outra pessoa, eu ainda não consigo.”
Valter de Souza Peixoto foi reassentado na comunidade de Gondó, mas sua comunidade de origem é Água Santa, que hoje é propriedade da mineradora, e relata que “não pode ter um tanque de peixe, pois a Anglo afirma que não fornecerá água para esse tipo de atividade.” Ele fala ainda que outros moradores “desejam ter um tanquinho de peixe em casa, para poder consumir”. Já Maria de Fátima Teixeira afirma que “a água pode ter uma qualidade duvidosa, pois a poeira que voa longe pode poluir o poço [...] O bucho do boi tem uma cor diferente, tudo preto agora’”.
Outra questão que foi pontuada pela comunidade durante a reunião é o avanço do empreendimento na vertente oeste da serra minerada, que atinge de forma mais próxima a comunidade e que tem causado/piorado os problemas que os moradores já enfrentam, como ruídos e a poeira trazidos como possíveis danos causados pelo desmonte de rocha (Descarreamento da Vertente Oeste).
Por fim, após os moradores terem exposto todas as questões às autoridades públicas presentes no encontro, a Assessoria Técnica Independente da Cáritas auxiliou os atingidos (as) a encaminhar as propostas que surgiram para resolução dos problemas. A equipe técnica produziu e encaminhou um ofício que convida a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Anglo American, Cimos, Ministério Público de Minas Gerais e a Prefeitura de Conceição do Mato Dentro para uma reunião com as famílias que foram reassentados em Gondó, a fim de discutirem suas questões.