Seis anos após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, a luta por justiça segue mobilizando pessoas atingidas. Em mais um 25 de janeiro, as mobilizações se voltam para a responsabilização dos responsáveis pelo rompimento da barragem e pelo avanço da reparação integral e justa para centenas de milhares de pessoas atingidas na Bacia do Paraopeba, Represa de Três Marias e Rio São Francisco.
Um dos símbolos de esperança para as famílias das vítimas e comunidades atingidas é a Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho. A sexta edição aconteceu no último final de semana e contou com a participação de centenas de pessoas atingidas, movimentos sociais e organizações da sociedade civil.
O evento, promovido pela Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), tem a Cáritas Regional Minas Gerais como organização parceira na organização e execução da Romaria, pelo sexto ano consecutivo. Anna Crystina Alvarenga, da coordenação colegiada da Cáritas MG, reforça que a criação da Romaria foi movida, justamente, pela necessidade fortalecer uma luta que é comum a todos nós: “Nos juntamos à luta por memória e justiça pelas vítimas, pelo meio ambiente, pela Casa Comum, e pelo Brasil. E temos esperança. Esse é, inclusive, o lema deste ano: Memória, justiça e esperança. A esperança nunca vai se apagar: a esperança da não repetição desse crime; da manutenção da vida; da reparação integral para o meio ambiente; para as pessoas atingidas. A Romaria veio como uma manifestação religiosa, manifestação espiritual, cristã, para fazer memória, pedir justiça e celebrar a nossa esperança”.
Com uma programação intensa, a VI Romaria abriu espaço para a imprensa na manhã de sábado, em coletiva preparada no salão da Paróquia São Sebastião, em Brumadinho. A atividade trouxe as vozes das pessoas atingidas, que relembraram as vidas perdidas e denunciaram a impunidade que ainda marca o desastre-crime.
Coletiva de imprensa
A coletiva de imprensa reuniu importantes lideranças atingidas e representantes de movimentos sociais. Participaram do debate Dom Francisco Cota, bispo da Diocese de Sete Lagoas; Maria Regina Silva, da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM); Tata Mebagandi, do Povo de Terreiro da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PCTRAMA); Cláudia Saraiva, do Coletivo de Pessoas Atingidas de Brumadinho; Cacique Sucupira, da Aldeia Naô Xohã Paraopeba; e Gabriela Cotta, da assessoria técnica independente AEDAS.
Durante o encontro, os participantes reafirmaram a necessidade de justiça e reparação integral para os atingidos da Bacia do Paraopeba e da Represa de Três Marias, destacando que seis anos se passaram sem que houvesse responsabilização criminal pelos crimes cometidos pela mineradora Vale. “Houve uma investigação criminal que prova que teve 16 pessoas culpadas por aquilo que aconteceu, por omissão, por desrespeito à vida, por negligência e, principalmente, por ganância. Nesse caminhar em busca pela justiça, nós vamos continuar. Não importa se as pessoas dizem que temos que parar, que já chegou a hora. Porque, para nós, essa hora só vai chegar quando a gente ver a justiça dos homens. Ela precisa ser feita”, desabafa Dona Regina da Silva, mãe da joia Priscila Elen Silva e representante da diretoria da Associação dos familiares das vítimas e atingidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho (AVABRUM).
Celebração eucarística: momento de fé e memória
A programação seguiu com uma celebração eucarística no Santuário Nossa Senhora do Rosário, reunindo familiares das vítimas, romeiros e comunidades tradicionais, como povos indígenas e quilombolas. A missa foi conduzida por Dom Francisco Cota, com a presença de Dom Joel Maria dos Santos e do Padre Marcos Albuquerque, da Paróquia São Sebastião de Brumadinho.
Durante a celebração, cartazes com os nomes das 272 joias foram erguidos, reafirmando o compromisso com a memória das vítimas e a luta por justiça.
A Romaria: esperança e resistência
A VI Romaria pela Ecologia Integral se consolidou como um ato de fé, luta e resistência. Com o lema bíblico “A Esperança não engana” (Rm 5,5), a caminhada saiu do Santuário Nossa Senhora do Rosário rumo à Praça Saudade das Joias, local do ato promovido pela Avabrum.
A procissão levou consigo a imagem de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, simbolizando o luto e a força das mães que choram por seus filhos. A cruz com os nomes das 272 vítimas também foi carregada pelos participantes, reafirmando o compromisso com a memória e a justiça.
essa é a romaria, essa é a motivação e seguimos buscando uma grande massificação desse momento para seguir celebrando, na verdade, para seguir fazendo memória para que esse crime não mais aconteça e que a justiça seja feita, a justiça criminal, a justiça ambiental, a justiça socioeconômica, ela seja feita por essa quantidade de pessoas que vivenciaram e que ainda vivenciam o crime. O crime no seu território, nos seus corpos.
No encerramento, às 12h28, foram soltos 2.192 balões, representando cada dia desde o rompimento da barragem em 2019. O ato aconteceu no exato horário em que a lama destruiu vidas e comprometeu de forma irreparável a Bacia do Rio Paraopeba.
Seis anos de impunidade e luta
Sem responsabilização criminal até hoje, a reparação para as milhares de vítimas em 26 municípios mineiros avança a passos lentos. Além de nenhuma responsabilização criminal pelo desastre, as medidas de reparação determinadas pela Justiça demoram a chegar para as milhares de vítimas, nos 26 municípios mineiros atingidos.