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A Campanha da Fraternidade e o cuidado com a Vida das mulheres

Áreas de Atuação

Leia o artigo da assessora técnica da Cáritas Minas Gerais, Renata Siviero, sobre a CFE e a luta das mulheres.

Publicação: 08/03/2021


CRISTO É NOSSA PAZ: do que era dividido fez uma unidade! Com esse lema a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) desse ano nos convida a promover diálogos que contribuam para estabelecer a unidade e edificar pontes. “Propõe a cristãos e pessoas de boa vontade do país e de todas as igrejas a pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual. Tudo isso através do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, inspirados e inspiradas no amor de Cristo”.

Anualmente em março, a Campanha da Fraternidade convoca a sociedade a ser mais justa e mais igualitária. Esse ano a Campanha é Ecumênica e a proposta é um convite ao diálogo, participar em unidade na diversidade humana. Somos estimulados e estimuladas a buscar caminhos de comunhão e fraternidade à luz do Evangelho. Sendo assim, é importante nos perguntar: qual tem sido nosso nível de tolerância e intolerância diante das pessoas e dos modos diferentes de viverem sua fé? O que estamos fazendo para superar a cultura do ódio?

Também em março se celebra o Dia Internacional das Mulheres. E tem como objetivo trazer à tona este tema para o debate, mediante tantas violências e desigualdades sofridas pelas mulheres, e educar toda a humanidade sobre a necessária igualdade de direitos e condições entre homens e mulheres, no respeito às diferenças de gêneros e na construção comum de um mundo novo possível. Desta forma, o 08 de março não é um dia de comemorações, mas sim de luta. 

Mas qual a relação entre a CFE e a luta das mulheres? Professando que Cristo é nossa paz e que do que era dividido ele fez unidade, como justificar que ainda hoje as mulheres sejam violentadas e assassinadas; que ainda ocupem poucos espaços de liderança; que em algumas ocasiões tenham a remuneração menor que dos homens ocupando as mesmas funções? Se cremos em Jesus Cristo e em sua Palavra, temos que nos comprometer a derrubar os muros das divisões e também lutar contra as desigualdades e superar todas as formas de violências. 


Agentes da Cáritas Regional Minas Gerais em diversas ações ao longo de 2019 e 2020.

Assim sendo, na data do 08 de março em que tantas atividades são realizadas e colocando em prática o que a CFE nos propõe, é urgente e necessário dialogar a respeito da situação da mulher na sociedade. A cada 9 horas uma mulher é morta, durante a pandemia no Brasil. Quando ligamos a TV, os noticiários nos trazem todos os dias a triste notícia de mulheres que foram assassinadas, violentadas, agredidas por seus companheiros ou ex-companheiros. Nós mulheres somos marginalizadas e invisibilizadas e nossos direitos violados constantemente. “A violência contra as mulheres é pecado e por isso precisamos nos fortalecer e nos animar para um diálogo de um ecumenismo de direitos e justiça. É urgente criar no mundo e nas Igrejas uma nova cultura de inclusão e superar o patriarcalismo e o machismo que fazem mal a todos, mulheres e homens”. É preciso pedir perdão todas as vezes que fazemos piadas em relação às mulheres, tornando-as objeto de nossos preconceitos; todas as vezes que somos omissos diante das desigualdades de gênero.

Nessa semana, em que o mundo inteiro será mais sensibilizado para a causa da mulher e da igualdade de gêneros, as comunidades cristãs são, especialmente, chamadas a aplicar a Campanha da Fraternidade Ecumênica ao tema da solidariedade à causa da mulher. E ao invés de flores, chocolates, felicitações que tal se propor a lutar pelo fim da violência contra as mulheres? Que tal assumir a luta da mulher por igualdade? Que tal lutar por uma remuneração justa para todos e todas? Por que não nos posicionar diferente diante da intolerância e das piadas machistas?

“As mulheres têm sido profetizas do cuidado com a terra, na relação de amor com a natureza e em propor novas relações no seio da família e da sociedade”. A história do cristianismo foi construída com forte presença das mulheres. Nos relatos bíblicos podemos conhecer a presença ativa das mulheres nos movimentos de Jesus; vemos como Jesus olha para elas, como Ele se relaciona com a mulheres, como é cuidadoso e respeitoso e como se coloca ao lado delas, “quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7).

É urgente e necessário compreender que CRISTO É NOSSA PAZ e que do que era dividido Ele fez uma unidade, ou seja, sendo Ele paz e Aquele que nos convoca à unidade somos apelados a olhar a realidade das mulheres nos meios em que convivemos, com o olhar de Jesus. Que sejamos tomados pela solidariedade compassiva e juntos, mulheres e homens, nos unamos no cuidado com a Vida.

Gandhi, o líder do movimento pela independência na Índia, professava sua fé como hinduísta. Em seus escritos, ele relata que seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem vinte e quatro horas por dia. Sendo assim, olhemos para Jesus, o homem de Nazaré, e aprendamos com Ele o que é ser verdadeiramente Cristão e Cristã, especialmente nesse momento de tanta intolerância em que o cuidado com a vida parece estar longe de ser uma prática amorosa.

Que o diálogo, que é contrário a intolerância, seja nosso compromisso de amor! “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”! 

Por Renata Siviero Martins, assessora técnica da Cáritas Regional Minas Gerais

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