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Agricultura familiar e mineração: as histórias de camponeses em Conceição do Mato Dentro

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Em celebração ao Dia da Agricultura Familiar, produtores de Conceição do Mato Dentro contam suas histórias e dificuldades frente à mineração

Publicação: 29/07/2021


O dia 25 de julho é lembrado como o Dia Mundial da Agricultura Familiar e a importância dessa atividade vai além da produção rural, da horta ou da agropecuária como práticas das famílias em suas terras. Cuidar do solo e dos meios de produção está ligada também à preservação de ecossistemas e à forma produtiva que nutre as famílias há anos.

Conceição do Mato Dentro, cidade que por muito tempo se desenvolveu através da agricultura familiar, hoje reúne histórias de diversos agricultores que se fortaleceram do trabalho no campo, mas que também ainda resistem frente a uma atividade econômica que lhes atinge cotidianamente: a mineração.

Morador da comunidade do Gondó, Valter Peixoto, 48 anos, conta que durante toda sua história de vida sempre manteve um vínculo afetivo com a agricultura familiar. “Desde que me entendo por gente é isso mesmo. Meus pais já me criaram assim, plantando, no campo mesmo”, relata o camponês que nasceu no povoado de Água Santa, localizado no município de Frutal.

“A gente plantava mandioca, arroz, feijão, milho, cana, isso tudo que era de roça. E o alimento da gente era tirado dali mesmo, né? Então, a gente até teve o costume de ter as coisa mais natural (sic), orgânico. Esse foi o crescimento da vida da gente”, comenta.

Da mesma forma também vive a Marília Peixoto, 60 anos, conhecida como Dona Lilica, moradora da mesma comunidade. Em sua pequena propriedade, ela fala que produz feijão, farinha, verduras, limão, laranja, banana, entre outros alimentos. E, além disso, a agricultora ainda explica que faz disso a sua renda familiar. “Tem alface, cebolinha, mostarda, tem gondó, tem de tudo... a gente refoga ele e põe um torresminho no meio dele e um anguzinho, não sobra nem para os cachorros. E eu planto pra comer mesmo, mas também vendo uma couve, vendo alface, cebolinha, chuchu.”


Dona Lilica, agricultora da comunidade de Gondó, fala sobre sua relação com a terra. 

Atingidos pela mineração

Em 2009, Francisca de Souza, 68 anos, e seu esposo José Mário Simões, 72, foram reassentados pelo empreendimento Anglo American na comunidade de Córregos. Ambos residiam na Região da Pedreira, uma área rural localizada na comunidade do Sapo, também do município de Conceição do Mato Dentro. Tal região, contudo, logo começou a sofrer alguns impactos referentes à mineração.

Segundo conta a família, na época eles sofriam danos relativos a muito barulho e poeira, levando o empreendimento, inclusive, a realizar um reassentamento compulsório, não dando opção de escolha para que os atingidos continuassem em sua propriedade de origem.

Embora Dona Francisca e Seu Mário, que são acompanhados pela Assessoria Técnica Independente (ATI) da Cáritas, informem que tenham sido indenizados e transferidos para Córregos, eles relatam que as coisas não tiveram uma melhora como era esperado, especialmente sobre a produção agrícola, que, anteriormente, era a principal fonte de alimentação e renda da família. “Olha o pé de pêssegos, era bonito... olha como tá agora. Por enquanto o que tá resistindo é aquele pé de lichia, um pé de canela. Mas a poeira vai vindo tudo, lá na serra não tinha... nós nunca tivemos isso não. Lá na serra tinha planta que agora não tá tendo. Com essa poeira nada fica. Tudo acaba”, conta a Dona Francisca.


Dona Francisca e Seu Mário, em frente a sua pequena plantação.

Valter Peixoto, outro atingido acompanhado pela ATI, comenta que passou por um processo semelhante de reassentamento, e também levanta alguns desses problemas atualmente vivenciados na comunidade do Gondó. “Antes a produção era melhor, porque não tinha essa poeirada que tá hoje, que tá atacando desse jeito. As coisas produziam melhor (sic), tinha uma safra melhor. Mas agora, de certos anos pra cá, ficou precária demais as coisas, por causa da própria poeira né, que tá atacando. A água não tem mais tanta qualidade, nem pra própria plantação”, conta o atingido.

Foto 1: Silmara Filgueiras, comunicadora da Cáritas Regional Minas Gerais em Conceição do Mato Dentro
Foto 2: Kennet Anderson, comunicador da Cáritas Regional Minas Gerais em Conceição do Mato Dentro.

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