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Anglo American se torna ré em processo por violações de direitos na comunidade de Gondó

Áreas de Atuação

Ministério Público ajuizou Ação Civil Pública das famílias reassentadas de Gondó, que há anos vêm sofrendo com os impactos da mineração

Publicação: 21/09/2023


Depois de mais de um ano de cobranças por reparação,  o Ministério Público de Minas Gerais ajuizou a Ação Civil Pública de Gondó pelos danos socioambientais em decorrência da atividade minerária na região. Isso aconteceu devido à constante luta das pessoas da comunidade pelos seus direitos enquanto atingidas pela mineração junto à equipe da Cáritas ATI 39.


Mas o que é ajuizar uma Ação Civil Pública?

A Ação Civil Pública (ACP) tem como objetivo proteger os direitos difusos e coletivos e responsabilizar quem comete danos, que podem ser morais ou patrimoniais. Ela está prevista na legislação brasileira e pode ser ajuizada pelo Ministério Público ou outras pessoas jurídicas, públicas ou privadas. 


E o que são direitos difusos e coletivos?

Direitos difusos são aqueles que todo brasileiro possui, seja pela condição de ser brasileiro ou ser humano. Esses direitos são objetos de interesse de uma população, como o direito ao meio ambiente equilibrado; à segurança pública; à saúde pública; à ordem econômica, etc. 

Já os direitos coletivos são direitos de cidadãos-integrantes de um grupo ou de uma classe. Por exemplo, os direitos dos trabalhadores de uma certa categoria; os direitos de moradores de uma cidade que sofreu um desastre ambiental ou ainda os direitos das pessoas de uma comunidade atingida pela mineração.

Assim, a ação civil pública sempre terá caráter público e social. A partir dela, pede-se que o réu, ou seja, aquele que é responsável pelo dano, seja condenado a fazer ou deixar de fazer determinado ato, com a imposição de multa caso haja descumprimento da decisão judicial.



De acordo com Ação Civil Pública, Anglo American é responsável pela violação de direitos em Gondó. Foto: Cecília Santos| Cáritas ATI 39


O que é a Ação Civil Pública das famílias reassentadas de Gondó que foi ajuizada?

A ACP de Gondó ajuizada pelo Ministério Público apresentou ao Poder Judiciário o quadro de violações de direitos humanos que nove famílias reassentadas em Gondó e Retiro São Francisco vêm sofrendo por conta da atividade minerária na região. Segundo a ACP, essas famílias, embora já reassentadas há aproximadamente 15 anos, ainda têm diversos de seus direitos legais e contratuais violados. Para além disso, elas estão sendo novamente e continuamente atingidas pela mineração, uma vez que foram reassentadas em local atualmente considerado Área de Influência Direta (AID) da Anglo American.

Conforme já demonstrado em estudos apresentados pela Cáritas|ATI 39 ao Ministério Público, a ACP enfatiza que são vários os problemas que essas famílias sofrem cotidianamente em razão da mineração: a perda dos laços comunitários; ausência de registro de propriedade; falta de água potável; barulho; poeira; rachaduras nas casas; comprometimento da saúde mental. Essas são situações que acontecem há anos e que seguem ao longo do tempo sem solução ou reparação.

É possível dizer que essa ACP é uma conquista da comunidade que, desde o início do Programa de Comitê de Convivência de Gondó, em 2022, vem relatando os contínuos danos da mineração na comunidade e em seus modos de vida. Tudo começou com a primeira Assembleia de Gondó, que aconteceu em setembro de 2022. 

Nessa assembleia, o Ministério Público sinalizou que a Anglo American deveria indenizar as famílias reassentadas por danos morais. Foi a partir daí que a empresa formalizou o Comitê de Convivência de Gondó, com o objetivo de discutir os impactos da mineração e buscar resoluções para as demandas coletivas da comunidade. Até então, aconteceram cinco reuniões do Comitê de Convivência,

Essas reuniões também são momentos em que a comunidade pode se reunir com representantes da Anglo American e do Ministério Público para relatar os danos sofridos pela comunidade, além de propor e cobrar a resolução de seus problemas. A criação desse espaço foi importante  para que a comunidade apresentasse as violações sofridas e reivindicasse seus direitos diretamente às instituições públicas, violações que agora estão sendo ajuizadas pelo Ministério Público. 


5º Comitê de Convivência de Gondó. Foto: Cecília Santos | ATI 39


O que a Ação Civil Pública solicita ao Poder Judiciário como indenização às famílias reassentadas de Gondó?

1) A indenização de, no mínimo, R$500.000,00 (quinhentos mil reais) para cada uma das nove famílias reassentadas em Gondó, como forma de reconhecimento do dano moral individual. Valor que deverá ser depositado em conta bancária a ser indicada por elas.

2) Pagamento de dano moral coletivo no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) a ser depositado em conta judicial especificamente para tal finalidade, cabendo ao Programa de Apoio a Projetos da Região Central — PROAP CENTRAL a indicação das destinações em favor de projetos sociais, ambientais, de fiscalização, de proteção e de reparação do meio ambiente que tenham preferencialmente como público-alvo as pessoas atingidas pela mineração na comarca de Conceição do Mato Dentro; 

3) O valor da indenização deverá ser aumentado proporcionalmente de acordo com o tempo de permanência das famílias no território.

4) Condenação da Anglo American ao pagamento de danos ambientais no valor de R$ 70.072,98 (setenta mil e  setenta e dois reais e noventa e oito centavos) a ser revertido em favor da Polícia Militar Ambiental em atuação na comarca de Conceição do Mato Dentro;

Após ser ajuizada pelo Ministério Público, a ACP será primeiramente julgada na Vara da Comarca de Conceição do Mato Dentro- MG, cabendo recurso no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e, posteriormente, nas instâncias superiores. O processo é demorado e longo; apesar disso, esse é um passo e uma conquista importante para as famílias reassentadas de Gondó. A partir dela, a Anglo American poderá ser responsabilizada por uma série de violações aos direitos humanos e ao meio ambiente e terá que arcar com indenização às famílias atingidas e reassentadas em Gondó.


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