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Atingidos de Mariana enviam carta ao Papa Francisco

Áreas de Atuação

Nos seis anos do rompimento da barragem de Fundão, as comunidades atingidas de Mariana clamam por justiça, em carta ao Papa.

Publicação: 28/10/2021


A Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) de Mariana enviou, nesta quarta (27), uma carta ao Papa Francisco. Exaustos pela longa luta em prol da reparação, a carta é um apelo para que o pontífice interceda pelas milhares de vítimas do maior crime socioambiental do Brasil. Segundo Mônica Santos, atingida de Bento Rodrigues e membro da CABF, a ideia de recorrer ao Papa surgiu devido ao abandono das demais instituições, como as próprias empresas causadoras do crime-desastre (Samarco, Vale e BHP), os poderes executivo e legislativo brasileiros, a justiça e a imprensa tanto nacional quanto internacional. “Buscamos ajuda em todas as esferas possíveis… todas sem êxito! Estamos nos seis anos do crime sem uma data para a entrega dos reassentamentos e sem resolução dos problemas enfrentados nesses longos anos”, desabafa a atingida.


Primeira missa celebrada em Bento Rodrigues após o rompimento da barragem de Fundão, em 2017.

São 2192 dias de luta pela reparação integral, como um clamor por justiça, a CABF, representando as comunidades atingidas de Mariana, elaborou a mensagem ao Papa. “Depois de tanto tempo contra o poder das empresas rés precisamos que o mundo volte a olhar por nós, pelas atingidas e atingidos de Mariana”, destaca Angela Aparecida Lino, atingida de Ponte do Gama e membro da CABF, que completa: “Eu acredito que o Papa pode nos dar essa atenção, bem como interceder em orações pela nossa causa, para continuarmos a ter forças para lutar pela reparação justa”.

No texto, os atingidos denunciam os descumprimentos de acordos judiciais cometidos pela Renova e suas mantenedoras; a impunidade que impera nesse processo e; a falta de medidas de não-repetição do crime, uma vez que algumas das famílias atingidas continuam em área de risco com medo constante da barragem de Germano se romper. A carta aponta, principalmente, para as violações de direitos fundamentais como o direito à moradia digna; à saúde; à água em quantidade e qualidade suficientes; à preservação das referências culturais - inclusive do patrimônio religioso; e o direito à comunicação. Além disso, denuncia os maus tratos cometidos contra animais das famílias atingidas, já que a Renova vem realizando cortes no fornecimento de alimentação, entrega de alimentos com péssima qualidade ou ainda em quantidade insuficiente, o que tem provocado adoecimento e morte desses animais.

Para Antônio Pereira Gonçalves (DaLua), atingido de Bento Rodrigues, as empresas tentam silenciar e provocar desunião entre os atingidos “para tentar levar vantagem e enfraquecer a gente”, acrescenta. Segundo ele, o mesmo pode ser dito da justiça que tem beneficiado apenas os poderosos sem atentar para a dor das pessoas atingidas, “tudo em nome da ganância e do dinheiro”, completa. DaLua, que também é membro da CABF, indigna-se com a impunidade e com lucro exorbitante das mineradoras que não promovem a reparação dos danos que causam. “A Samarco voltou a operar rápido enquanto nós não temos nem as nossas casas prontas. Por isso enviamos a carta ao Papa, para que toda a Igreja Católica possa nos escutar. Estamos sendo esquecidos e ninguém quer ouvir a gente, principalmente as empresas que só pensam no seus lucros”, conclui o atingido.

O rompimento da barragem de Fundão matou 19 pessoas no dia 05 de novembro de 2015, desde então, muitas outras vidas foram roubadas pelo descaso e pelas sucessivas violações dos direitos das pessoas atingidas. O crime-desastre despejou na bacia do rio Doce 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério que chegou até o litoral do Espírito Santo. Em Mariana, são mais de 5 mil pessoas atingidas. Ao longo da bacia do rio Doce até o mar somam-se mais milhares. São seis anos de lutas e de impunidade. O povo clama por justiça! 

Por Wan Campos e Ellen Barros, comunicadores da Cáritas em Mariana.
Foto destaque: Imagem aérea da Igreja de Paracatu de Baixo, por Marcela Nicolas e Guilherme Frodu, Cáritas MG.
Foto:  Rui Souza - PASCOM / Jornal A Sirene. Edição de fevereiro de 2017.



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