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Cáritas Diocesana de Januária participa do Encontro em Defesa das Águas e dos Povos Tradicionais

Áreas de Atuação

No Dia da Água, o encontro foi realizado com a participação de 10 lideranças de comunidades veredeiras e quilombolas de Bonito de Minas

Publicação: 26/03/2024


Plenária de articulação dos povos veredeiros quilombolas.


Com os pés firmados no território e inspirados pelo canto de perdão à Mãe Terra, mulheres e homens representantes de comunidades veredeiras quilombolas realizaram a abertura do Encontro em Defesa das Águas e dos Povos Tradicionais em Bonito de Minas na manhã da última sexta-feira, 22 de março, na sede da Associação da Comunidade Quilombola Veredeira Japão e Veredinha II. Ali, os povos que vivem nesse território se reconhecem por duas identidades: veredeiros e quilombolas. O extrativismo está na base do modo de vida da comunidade que vive há gerações de forma harmoniosa em regiões de veredas. 


Olhando para essa realidade, o evento buscou dialogar sobre os desafios e as conquistas na lutas pelo direito dos povos tradicionais. Além das lideranças das comunidades tradicionais, a mesa da plenária contou com a presença de representantes da Cáritas Diocesana de Januária, Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA NM), Ministério Público Federal de Minas Gerais, Instituto Estadual das Florestas (IEF), Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bonito de Minas e o mandato da deputada Leninha (PT).


Edilene Amaro Batista, liderança veredeira quilombola e presidente do Conselho Nacional de Povos Racionais.


Para a veredeira quilombola, Edilene Amaro Batista, 37 anos, o momento é um marco muito importante para a articulação da luta de todos os territórios tradicionais da região. Representante do povo veredeiro no Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (CONPCT), ela tem levantado a sua voz contra a ação de grileiros e fazendeiros na região que têm desmatado áreas de preservação e contaminado a água dos rios com agrotóxicos. “Nós já perdemos muitos córregos, muitos rios, agora nós só temos o rio Cochá que está bem danificado com pouca água”, ela reflete. Na abertura do encontro, a sua fala ressaltou a importância da mobilização em prol do compartilhamento de saberes para fortalecer os laços das comunidades, para a garantia dos direitos pela água, saúde, educação escolar e titulação do território.


Parte desse esforço foi compartilhado durante o evento através  da entrega do Protocolo de Consulta das Comunidades Veredeiras do Norte de Minas Gerais, realizado pela Associação das Comunidades Veredeiras (ACEVER) e Articulação Rosalino Gomes de Povos Tradicionais. Miriam Nogueira, assessora técnica do CAA NM, afirma que o documento é um direito deliberado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a sua construção foi realizada com as comunidades veredeiras quilombolas para apresentar como eles desejam ser consultados de forma livre, prévia e informada diante de algum empreendimento no território. O protocolo foi construído com as comunidades através de escutas e oficinas nos territórios na intenção de levantar informações sobre os modos de vida do povo veredeiro e dialogar sobre os direitos dos povos tradicionais. 

Distribuição do Protocolo de Consulta das Comunidades Veredeiras do Norte de Minas Gerais  para as comunidades do território.



Durante a mesa de diálogo da plenária, Jaime Alves, vice presidente da ACEVER e integrante da diretoria da Cáritas Diocesana de Januária, ressaltou que o protocolo como ferramenta de luta para os povos tradicionais. “Há muito tempo, nós estamos enfrentando a invasão do nosso território e a contaminação das nossas veredas”, ele afirmou. A plenária trouxe diversas falas preocupantes sobre o contexto de acesso à água de qualidade para as comunidades. Wanderson de Souza, coordenador do projeto do Programa 1 Milhão de Cisternas na Cáritas Diocesana de Januária, refletiu sobre a importância da tecnologia social da cisterna de 16 mil litros que será implementada no território através do projeto da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). A ação pretende atender 120 famílias através do através do programa de mobilização social e acesso à água.

No encerramento da plenária, a comunidade quilombola e veredeira do Japão recebeu a certificação quilombola da Fundação Palmares, resultado de um longo processo de luta da comunidade pela garantia dos seus direitos de povos tradicionais. Santino Araújo, veredeiro da comunidade de Água Doce, finalizou a mesa falando sobre a importância dos povos tradicionais seguirem firmes e em luta. De acordo com ele, é preciso caminhar levantando a bandeira da agricultura familiar, pela educação, por políticas para que o povo tenha acesso à direitos e para que a juventude não precise sair para a cidade. Ele finalizou: “nós precisamos valorizar as nossas riquezas, nós queremos sucessão em nosso território, nós não vamos arredar o pé daqui não!”.



Entrega da certificação quilombola da comunidade do Japão

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