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IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho clama por justiça, memória e esperança

Áreas de Atuação

Caminhada de fé marca o quarto ano do desastre-crime do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale, em Brumadinho.

Publicação: 31/01/2023



Romeiras e romeiros reunidos na missa, em Brumadinho

Na data em que o desastre-crime do rompimento da barragem de rejeitos de responsabilidade da mineradora Vale S.A completou quatro anos, aconteceu a IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho. O ato religioso reuniu centenas de romeiras e romeiros, no dia 25 de janeiro, com clamores por memória às vítimas, para que a justiça seja feita e por esperança da construção de formas menos nocivas de compartilharmos a nossa Casa Comum. 

O mote central da romaria deste ano foi a água, elemento essencial para a vida. Além das 272 vítimas que tiveram suas vidas ceifadas pelos desastre-crime, modos de vida foram impactados nos municípios ao longo de toda a bacia do rio Paraopeba. Pessoas agricultoras, comunidades tradicionais e religiões de matrizes africanas precisam reaprender a conviver com as limitações impostas pelo cenário. “Nosso povo que tem 4 anos que não pesca, não caça, não faz mais seu ritual sagrado ao nosso deus, que é o deus da água e nos criou. A água é vida, sem ela não sobrevivemos", relata a Cacica Célia Angohô, da Aldeia Katurama, que esteve presente na coletiva de imprensa da romaria. 

A IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho é um espaço para denunciar as mazelas que as pessoas atingidas ainda sofrem devido ao crime continuado, mas também reflete outras possibilidades para que coletivamente lidemos com o meio ambiente. Na homilia da missa realizada na igreja da Matriz de São Sebastião, em Brumadinho, dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, fez esse apelo. “A hora é nossa, romeiros, de reconhecer que existem alternativas e elas estão entre nós. Que vivemos da agroecologia, do cultivo de nossas fontes de água, do turismo de nossas belezas naturais, de nossas serras e montanhas, da espiritualidade profunda de nossas comunidades tradicionais, da ancestralidade de nossos povos tradicionais e das florestas e tantos outros caminhos. Há horizontes novos abertos por nós. Resta-nos a coragem de defendê-los e ajudar aos que ainda andam cegos pelas leis antigas”, nos convida.  

A missa integrou a programação da romaria e foi celebrada por dom Vicente Ferreira, e concelebrada por frei Rodrigo Perét e padre Dário Bossi, ambos membros da Rede Igrejas e Mineração e da Comissão Especial da CNBB para a Mineração e a Ecologia Integral, e por padres e diáconos da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (RENSER).

Após o momento, romeiras e romeiros caminharam da Igreja Matriz de São Sebastião até o letreiro de Brumadinho. Faixas e gritos de ordem levaram reivindicações de justiça. Na entrada da cidade, os romeiros e as romeiras se uniram ao ato promovido pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM). Estiveram presentes também nesse momento autoridades como o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), os deputados federais Rogério Correia (PT), Padre João (PT), Célia Xacriabá (PSOL), e as deputadas estaduais Beatriz Cerqueira (PT), Bella Gonçalves (PSOL) e Leninha (PT), o vereador de Brumadinho, Guilherme Morais (PV), o representante da prefeitura do município, Gabriel Parreiras, e o procurador geral de justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Junior.

A Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho é a Igreja em saída e, também, um momento de luta coletiva. Romeiras e romeiros vêm de diversas partes do país para participar do momento. Como é o caso de Antônia Flávia, de Açailândia (MA). Ela mora em umas das 23 comunidades atingidas pela linha férrea da Estrada de Ferro Carajás, que vai até o porto do Itaqui, em São Luís (MA). “Minha comunidade é atingida há mais de 30 anos e temos um histórico de luta há mais de 15 anos, em que estamos lutando pelo reassentamento da comunidade. Estar aqui é firmar o nosso compromisso de fortalecer a luta de outras comunidades. A mineração leva a nossa riqueza, leva nossa mata, leva nosso rio, leva a nossa vida, estar aqui hoje é lutar contra isso e chorar essa dor. É dizer que nossa caminhada não acabou, embora seja longa”, enfatiza.


Memória, justiça e esperança foram os lemas da IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho

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