“Sobre o que são essas reuniões? Será que vai haver consenso? Quais são os meus direitos?” “Quem coordena? Quem pode ir? Onde vai ser hoje? Que horas? Quando vou pra minha casa nova? Em quem confiar?” Esses eram alguns dos questionamentos trazidos pelas populações atingidas nas semanas seguintes ao crime do rompimento da barragem de Fundão. Essas questões foram publicadas na linha do tempo da primeira edição do Jornal A SIRENE. Incertezas que pairavam sobre a vida das comunidades atingidas, em 2015.

Com o intuito de unir as forças, as dúvidas e as demandas das populações atingidas e a fim de dar continuidade a um processo de reparação justa e integral, foi formada a Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), em Mariana, no mês de dezembro de 2015. A Comissão reúne pessoas atingidas que representam os territórios de Bento Rodrigues, de Paracatu de Baixo e da zona rural (Paracatu de Cima, Ponte do Gama, Pedras, Campinas, Borba e Camargos).

Existem, também, outras comissões ao longo da bacia do rio Doce. Cada uma delas constrói sua trajetória de forma autônoma e enfrenta desafios próprios. No entanto, diversas das dificuldades impostas pela Renova e pelas empresas Samarco/Vale/BHP são similares.

Desde o início das negociações, as pessoas atingidas que assumiram as comissões disponibilizaram o seu tempo em uma luta árdua em busca dos direitos das comunidades, e viram suas rotinas completamente alteradas por inúmeras reuniões, audiências e compromissos. A Comissão formada precisava, antes de mais nada, compreender os processos jurídicos que estavam enfrentando e apontar para o caminho que atenderia ao interesse de todas as populações atingidas.

Entre os principais avanços alcançados pela CABF, estão: a escolha dos terrenos de Bento Rodrigues e de Paracatu de Baixo; a contratação da Assessoria Técnica da Cáritas MG; a garantia da participação das comunidades atingidas em todas as etapas dos reassentamentos; o direito à reformulação do cadastro e à autodeclaração das perdas e danos; a implantação de projetos de interesse das comunidades, como a Feira Noturna, o Jornal A SIRENE e o time de futebol União São Bento; o direito à Assessoria Jurídica gratuita da Cáritas MG para as negociações das indenizações; a aprovação da Matriz de Danos, entre outros.

É de suma importância reconhecermos que as conquistas ao longo destes quase seis anos de luta são, em grande medida, fruto do trabalho das comissões de atingidos(as), eleitas e legitimadas por suas respectivas comunidades desde o início das negociações pela reparação, com o auxílio das assessorias técnicas de confiança.

Perfis CABF

A partir de hoje (19) publicaremos em parceria, Jornal A Sirene e Cáritas MG, uma série de perfis apresentando brevemente cada integrante da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão de Mariana (CABF). Trata-se de um coletivo eleito e legitimado desde 2015 pela dedicação de incansáveis esforços para que as suas comunidades sejam reparadas. Além de conhecer um pouco mais sobre essas pessoas, os perfis trarão, sob a ótica delas, as principais conquistas alcançadas ao longo destes seis anos de luta.

Por membros da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão de Mariana
Com o apoio de Ellen Barros, Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Afonso, Juliana Carvalho e Wandeir Campos

*Matéria originalmente publicada pelo Jornal A Sirene, em 05 de julho de 2021.