Quem conhece os projetos da Cáritas Regional Minas Gerais voltados para as crianças e adolescentes se lembra com saudades do Nosso Encontro, uma atividade itinerante, realizada de dois em dois anos, que reunia as crianças e os adolescentes que participam das ações e os agentes Cáritas de todo o estado. Em 2013, o último Nosso Encontro presencial aconteceu no município de João Monlevade, organizado pela rede Cáritas mineira e tendo como anfitriã a Cáritas Diocesana de Itabira.
Este ano, no dia 24 de outubro, o Nosso Encontro voltou a ser realizado em edição virtual, reunindo os agentes de Minas Gerais com as crianças e os adolescentes que integram os projetos no estado para compartilhar as boas práticas realizadas durante a pandemia. Transmitido pelas redes sociais da Cáritas MG, o encontro também contou com a participação de Leon Souza, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), para falar sobre a luta contra a violência com crianças e adolescentes no contexto da crise da Covid-19.
Durante sua fala, Leon explicou que ainda não é possível ter uma real dimensão dos impactos da pandemia para as crianças e os adolescentes. “Para esses sujeitos que estão em fase de desenvolvimento de construção das suas capacidades cognitivas, sociais, enfim, do seu posicionamento no mundo, esse é um impacto muito integral”, afirma. Mas destacou os impactos diretos na educação, lembrando que muitas crianças tiveram esse direito negado por não terem acesso à internet; na saúde física e mental, uma vez que muitas fizeram o isolamento em contextos familiares de extrema violência; e no aumento da insegurança alimentar das, que alavanca o cenário de fome para muitas crianças e adolescentes.
Neste contexto, Leon ressalta que para garantir os direitos desses sujeitos o foco deve ser no cuidado com a vida, sobretudo aquelas que não tem acesso à moradia, à saúde, aos mecanismos de higiene e de cuidados com o corpo. Ele também provocou os participantes na defesa integral de uma educação transformadora e contextualizada, questionando como serão as escolas. “A escola precisa ser um lugar para as gerações presentes e futuras e para as famílias de exercício da criatividade e não da domesticação dos saberes e dos conhecimentos”, aponta.
Um pouco da história
A vice-presidente da Cáritas Diocesana de Itabira, Ana Maria Domingues, conta que bem antes dos primeiros Nossos Encontros, a Pastoral da Saúde, através da irmã Lila, já realizava uma atividade com as crianças e adolescentes na diocese. “Demos continuidade à atividade da Pastoral da Criança e da Saúde, juntamente com a Cáritas”, lembra Ana Maria, que ao organizar o encontro diocesano desse ano, ampliaram a construção e convidaram o Regional Minas para retomar o Nosso Encontro 2020.
A assessora da Cáritas Regional Minas, Renata Siviero, explica que, embora a temática da Infância, Adolescência e Juventude (IAJ) nacionalmente não esteja mais nas áreas de atuação da Cáritas, segue com ações e projetos voltados para esse público em Minas Gerais. “O Nosso Encontro é uma atividade importante, inclusive, para movimentar e fortalecer a rede, para trazer novamente essa proposta de que a rede Cáritas olhe para as diversas ações que estão acontecendo nessa área de atuação”, afirma.
Nosso Encontro 2020
Durante a programação, os participantes do Nosso Encontro compartilharam uma série de boas práticas nas ações com crianças e adolescentes durante a pandemia. Entre as experiências abordadas, a Cáritas Diocesana de Itabira partilhou sobre o projeto Arte e Vida e sobre o Casa Lar, apresentado por Ana Maria Domingues e pelo psicólogo Bruno da Silva Andrade, respectivamente. A agente da Cáritas de Itabira, Ana Maria de Sena, que é membra da equipe Diocesana de Catequese, falou sobre o trabalho pastoral do catecismo nesse período de isolamento.
A agente da Cáritas Diocesana de Januária, Meire Lisboa Reis, falou sobre o Projeto Quilombo dos Direitos, realizado na comunidade quilombola de Buriti do Meio, no município de São Francisco. A Cáritas Diocesana de Leopoldina compartilhou o Projeto Lugar de Negro, realizado no município de Cataguases e apresentado por Elinegra Santos, uma das coordenadoras da Associação Cultural de Canto e Dança Afro Justino e São Vicente.
A Cáritas Regional Minas Gerais trouxe a experiência de como o programa Arte da Saúde está sendo realizado de forma virtual em Belo Horizonte, através da apresentação de Valdirene Pereira Gomes, coordenadora de apoio do projeto. A programação do dia foi encerrada pela agente Cáritas, Marinete Morais que trouxe as principais reflexões partilhadas. Por dificuldades no sinal da internet, o Projeto Arte e Vida, realizado pela Cáritas Diocesana, não pode ser apresentado durante o Nosso Encontro.
Ao longo do Nosso Encontro, os participantes enfatizaram a emoção de ver a atividade ser retomada pela Cáritas em Minas Gerais. Leon Souza, que já havia participado do encontro na sua infância, expressou essa emoção: “O Nosso Encontro faz parte da minha história, da minha formação enquanto agente das pastorais sociais e militante”. Ele reforçou a esperança da rede Cáritas em dar continuidade presencial à atividade, assim que isso for possível: “Eu tenho muita esperança, junto com todos que falaram, que essa edição virtual vá projetar um possível encontro presencial, que seja tempo de celebração da vida, mas também de continuidade da luta da Cáritas pelos direitos de crianças e adolescentes”.