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CABF se reuniu com integrante de fundo de pensão do Reino Unido para discutir reparação em Mariana

Áreas de Atuação

Representantes da CABF apresentaram andamento dos programas de reparação, suas principais demandas e dificuldades encontradas

Publicação: 30/05/2023


No dia 21 de maio estiveram presentes, no escritório da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), Bruce Jackson, integrante do Universities Superannuation Scheme - fundo de pensão do Reino Unido, e representantes da CABF acompanhados de sua Assessoria Técnica - Cáritas|ATI Mariana. A finalidade do encontro era que Bruce pudesse ouvir da Comissão como estão sendo efetivadas as medidas acordadas para reparação das comunidades atingidas, e então encaminhar os questionamentos surgidos para outros investidores e as empresas responsáveis pelo rompimento da barragem. Por isso, a Assessoria Técnica foi convidada pela CABF para que também pudesse contribuir com esse panorama. 


As lideranças da CABF expuseram situações individuais vividas por cada um e suas famílias, e também apresentaram o cenário coletivo das comunidades de Mariana. Tanto situações vividas por pessoas que tiveram que se mudar para a zona urbana quanto aquelas que estão em seus territórios de origem. Um ponto bastante demarcado durante a conversa foi a recorrência de represálias sofridas por quem luta pela reparação e não aceita a forma como ela está sendo conduzida, sobrecarga de responsabilidades, a pressão que sentem de vários lados, e a falta de isonomia por parte da Renova no tratamento de demandas das pessoas atingidas. 

“Nós hoje vivemos em função do rompimento da barragem. Reuniões, audiências... hoje nós estamos aqui no domingo conversando com um investidor. Se a barragem não tivesse rompido nós precisaríamos estar aqui? Precisaria de nós estarmos aqui? A Samarco tinha que ter mais responsabilidade, da mesma forma que passava para a comunidade e os trabalhadores”.

 - Manoel Marcos Muniz, atingido de Bento Rodrigues.

Dentre as dificuldades encontradas para a garantia da reparação integral, o desrespeito ao direito à moradia apareceu como algo comum em todas as falas: sejam casas com problemas estruturais no reassentamento familiar, ou projetos e execuções insuficientes para reparar os modos de vida no reassentamento coletivo. "Pode falar que é lindo, deslumbrante, o nome que for... mas a gente não se reconhece nelas”, disse Luzia Queiroz, de Paracatu de Baixo, sobre os reassentamentos coletivos que estão sendo construídos pela Fundação Renova. Assim como ela, outras pessoas se queixaram sobre a limitação de plantio e cuidado de animais nos reassentamentos, atividades produtivas que eram centrais para a produção econômica das comunidades e seus modos de viver.

"Parece que eu fui arrancada de Paracatu, como uma árvore. Me sinto suspensa, as raízes estão morrendo. Não sei aonde vou poder plantar de novo. Será que minhas raízes vão suportar tanto tempo no ar, como eu estou hoje?" - Maria do Carmo, atingida de Paracatu de Cima.

Os danos relatados passaram por problemas familiares e comunitários, de saúde física e mental decorrentes ou agravados pelo rompimento da barragem, além do corte de auxílios que eram previstos pelo acordo. Uma das questões que pairavam na reunião era: como reparar os projetos de vida? Citando pessoas que já faleceram, vínculos rompidos, expressões da cultura das comunidades que foram interrompidas ou impossibilitadas por causa do rompimento da barragem, a Comissão questionou o investidor como seria possível chegar a uma reparação justa, que respeite tudo o que passaram e ainda passam.


Os representantes da CABF puderam falar de diversas pautas, danos individuais e coletivos, durante a reunião. Foto: Quel Satto / Cáritas ATI Mariana

A reforma da Capela das Mercês em Bento Rodrigues, assim como a manutenção dos territórios de origem de uma forma geral, foi uma pauta colocada pelos representantes da Comissão de Bento, em forma de pedido de apoio para que ela seja realizada. Além disso, mais de um representante questionou e criticou os investimentos realizados na Vale, BHP e Samarco, perguntando o porquê de investir em algo que destrói o futuro. Esse questionamento tem o objetivo de demarcar a responsabilidade dos investidores na manutenção das mineradoras - e também na fiscalização de suas atividades. 


As denúncias apresentadas pelos representantes da CABF também se deram na esfera dos maus-tratos contra animais, sendo que a garantia de alimentação, água e cuidado de qualidade para os animais é um dos pontos previstos dentro da reparação. Segundo a CABF e a Cáritas, é necessário que os investidores estejam atentos ao descumprimento das diretrizes da Ação Civil Pública (ACP) pela Fundação Renova. Demandas que já foram homologadas pela ACP não deveriam estar sendo debatidas, e sim garantidas. 

O coordenador operacional da Cáritas ATI Mariana, Anderson Ventura, reforçou a importância da valorização das pessoas que compõem a CABF e todas aquelas que seguem em luta pela reparação integral das comunidades atingidas e dos direitos violados com o rompimento de Fundão. Ele também apontou a relevância do trabalho de assessoramento técnico em defender esses direitos e os desejos das comunidades atingidas durante o processo de reparação.


O representante do fundo de investimento se propôs a levar os questionamentos das pessoas atingidas presentes para a reunião que teria com a Vale e outros investidores. Segundo ele, “as empresas diziam que a barragem estava segura, mas vimos que esse não era o caso. Brumadinho não deveria ter acontecido, se as empresas tivessem tomado as ações para mudar a forma de gerenciamento e governança das barragens”. Ele também afirmou que considerava negligência da Samarco o rompimento da Barragem de Fundão. Sobre a reparação, ele refletiu: "Eu acho que a Fundação está mais focada em consertar as questões materiais, e não os problemas das pessoas, da comunidade. E ela deve mudar essa perspectiva".


Essa reunião, assim como a visita anterior de lideranças da Igreja Anglicana, é parte dos esforços da CABF e da Cáritas em dialogar com diferentes atores interessados em conhecer a realidade de quem foi atingido pelo rompimento da barragem, para além dos números apresentados pela Fundação Renova, Samarco, Vale e BHP. Seguimos atentos para o desenvolvimento desses diálogos e apoiando as ações da Comissão.




Fotos: Quel Satto / Cáritas ATI Mariana

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