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Quase 6 anos por um tijolo

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Vestidos com as palavras : “6 anos e Paracatu de Baixo continua na luta pelo reassentamento”, atingidos vão ao evento do “primeiro tijolo"

Publicação: 16/09/2021


Camiseta usada pela comunidade


Fruto de muita luta, depois de quase seis anos, finalmente a comunidade de Paracatu de Baixo tem assentado o primeiro tijolo de uma casa no reassentamento coletivo. Apesar da pompa celebrativa do evento denominado pela Fundação Renova de “Tijolo Fundamental”, as cerca de 100 pessoas presentes na ocasião testemunharam o que, de fato, é fundamental: a garra e a perseverança do povo atingido, que segue cotidianamente em batalha pela retomada dos modos de vida, interrompidos desde novembro de 2015, pelo maior crime socioambiental deste país. "Demorou muito a colocação do primeiro tijolo, sendo que tudo deveria ser isonômico e a gente espera que as casas subam e encadeiam uma atrás da outra e a gente veja as casas do jeito tínhamos antes, não uma 'cidade', como estão prometendo por aí, mas como nosso modo de viver: rural, do nosso jeito de vida", desabafou Luzia Queiroz, atingida de Paracatu de Baixo. 

O evento foi marcado pelos pronunciamentos dos atingidos em memória daquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de viver o momento junto à comunidade. "Muitos, hoje, poderiam estar aqui, e não estão, para celebrar com a gente. Que sejamos felizes dentro das nossas casas, a única coisa que esperamos é isso: voltar para nossas casas. Hoje vivemos de favor dos outros, nós tínhamos o nosso lar. As nossas casas podiam ser até 'gambiarra', mas eram nossas. Já se passaram 5 anos e 10 meses para construir o 1º tijolo", enfatizou Romeu Geraldo, atingido de Paracatu de Baixo.



Respeitando as medidas de distanciamento devido a pandemia, cerca de 60 atingidos estiveram presentes no evento


Em fevereiro deste ano, o terceiro prazo judicial para a entrega das obras venceu e, até hoje, nenhuma justificativa foi apresentada pela Fundação, além disso,  nenhuma multa pelo descumprimento foi aplicada. Maria do Pilar, atingida de Paracatu de Baixo e mobilizadora da Cáritas em Mariana, destaca a importância da entrega do reassentamento. “A reconstrução de Paracatu de Baixo precisa acalentar os corações das pessoas que esperam. A espera é muito dolorida. A gente espera que as empresas não deixem mais marcas e feridas nos corações das famílias. É fundamental que as pessoas atingidas tenham alegria em voltar para suas casas”.




Em ato simbólico, atingidas assentam tijolos na 1ª casa da comunidade


A Renova informou, em nota, que a construção de “11 casas e quatro bem coletivos (Posto de Saúde, o Posto de Serviços e as Escolas de Ensino Fundamental e Infantil) foram iniciadas no dia 15 de setembro”, mas não disse quando serão concluídas. Ao todo, 94 famílias, até o momento, estão inseridas no reassentamento coletivo. Devido à demora na entrega das casas da comunidade, entre outros problemas, muitas famílias optaram por passar para o reassentamento familiar, modalidade em que escolhe a moradia em outra localidade. 


Para denunciar esse descaso das mineradoras e da Fundação Renova, a Assessoria Técnica (Cáritas MG) elaborou um documento listando os pontos mais críticos, tais como: a falta de garantia sobre o fornecimento de  água bruta, usada principalmente para hortas e criação de animais, para todas as famílias da comunidade; a demora na finalização da estrutura de terraplanagem do solo e a definição de como será a coleta de esgoto da comunidade; a dificuldade para a retomada dos modos de vida e reativação econômica das pessoas atingidas, são exemplos dos problemas que seguem sem resposta da Renova. “Eles [as mineradoras e a Fundação Renova] precisam entender que cada casa é uma história de uma família. Há seis anos as famílias foram arrancadas de suas casas e suas histórias foram interrompidas. O fundamental é ter respeito e transparência”, conclui Maria do Pilar, que também atua como membro da Comissão de Fiscalização das Obras de reconstrução de Paracatu de Baixo. 


Por Wan Campos e Ellen Barros,, comunicadores da Cáritas Regional Minas Gerais em Mariana.

Créditos das fotos: Wan Campos/Cáritas MG

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